segunda-feira, 17 de maio de 2010

Leremos em papel digital?

Com a expansão atual do mercado de tablet PCs (computadores mais portáteis que um netbook e maiores que celulares, geralmente com uma tela grande), expande-se também o mercado de livros eletrônicos, visto que uma das principais utilizações desses aparelhos e a leitura de livros digitalizados. Alguns aparelhos dedicam-se exclusivamente à leitura, como é o caso do Kindle, da Amazon, que por ter esse foco na leitura oferece recursos que os seus irmãos que tocam música não oferecem, como a tecnologia E-Ink, de tinta eletrônica, que não necessita de iluminação traseira e torna a tela do aparelho muito mais semelhante a uma página de livro impresso. Com todas essas novidades, estaria o livro impresso ameaçado? Seriam as “vantagens” da digitalização tão atraentes a ponto de condenar o livro impresso aos museus?
Vamos fazer uma comparação do mercado de livros com o mercado de música. Certas pessoas dizem que o que “arruinou” o mercado de música não foi a invenção da mídia digital, mas a invenção do CD. Pode ser um pouco de exagero, mas faz algum sentido. Quando os LPs eram o principal meio de obtenção de músicas, a maneira como as pessoas enxergavam os álbuns e a produção de seus artistas favoritos era diferente. Com menos artistas e um meio de ouvir músicas que obrigava o comprador a ter o álbum completo, os ouvintes acabavam-no ouvindo todo, e tornando-se mais conhecedores da produção do artista. Havia a música palpável, os álbuns, com fotos e tudo mais. Quando o CD chegou, pequeno e sem graça, vindo em toscas caixinhas de plástico, a emoção acabou. Não havia mais diferença entre ter a música digital, que oferece apenas o som, e ter o álbum concreto, que oferecia, além da música, a experiência física. Sem falar que a praticidade de levar milhares de músicas no bolso justifica por si só a música digital.
Talvez os livros tornem-se majoritariamente virtuais. Sua versão impressa talvez não compense a praticidade da versão digital. Porém o livro tem uma vantagem em comparação a música: não há a chegada de uma nova tecnologia que substitua forçadamente a atual, como o CD fez com o LP. O livro continua o mesmo de anos, e sua experiência física tem muito mais apreciadores que os de uma experiência semelhante na música. É muito mais espontâneo associar a escrita ao concreto que a música. Como a música, o espaço para o pequeno autor divulgar seu trabalho tende a aumentar. Provavelmente muitos livros terão primeiramente sua versão digital, talvez distribuída de graça pelo próprio escritor, até que seu texto seja muito lido e chame a atenção de alguma editora. Ficará mais difícil para o autor fazer sucesso, porque a quantidade de produções tende a aumentar. E com tantas opções disponíveis ao leitor o texto tornar-se-á como nunca antes um item de consumo. Os autores precisarão ser mais "cativantes", até "apelativos", em seus resumos de livro para que possam faturar algum dinheiro.
Acredito que o livro impresso não acabará totalmente e sempre terá seus apreciadores, porém ter sua produção diminuída é um caminho inevitável. Provavelmente apenas autores que tem um público cativo disposto a pagar por uma versão física dos livros terão seus textos impressos. Os autores em ascensão, ilustres desconhecidos, terão que contentar-se com a versão digital de seus livros, que é mais barata e menos arriscada para a editora. Mas mesmo assim haverão os que compram livros de papel, para os quais a leitura não é simplesmente o texto, mas o livro: que se pode tocar, cheirar e folhear. Basta olhar para os fãs de música: a indústria de LPs cresce mais de 100% ao ano nos EUA, movida por fãs que gostam de ter "um pouco mais" de seus artistas preferidos mas sem abandonar a praticidade: os novos LPs vêm com um código para que o comprador faça o download legal das músicas que está comprando em formato digital. Parece que o bom e o prático podem conviver harmoniosamente.

Vinicius C. Thomazi

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